quarta-feira, 18 de maio de 2011

Contamos agora uma história verídica, ocorrida nos anos 80, nos Estados Unidos da América, que relata a dificuldade que houve em detectar a surdez numa criança institucionalizada.
Atrevemo-nos a afirmar que hoje tal episódio não aconteceria!
Foi um testemunho verdadeiro retirado de uma coletânea de histórias reais, editada por Gail Groves e Denise Caignon com o título "Her wits about her: Self-Defence Success Stories by Women".

Suzette V. Garay é uma jovem americana, surda profunda que tem uma capacidade para falar pouco habitual. É excelente a ler os lábios e usa um aparelho de audição especial para modular o seu discurso. Recentemente aprendeu por si própria Língua Gestual e estuda psicologia na Universidade da Califórnia.
Esta jovem conta-nos como foi descoberta a sua surdez apenas aos treze anos de idade:
“Nasci completamente surda, e até aos treze anos ninguém descobriu, nem eu própria. Quando tinha dois anos e meio fui retirada da minha família pelos serviços sociais, porque a minha mãe não tomava conta de mim como devia. A partir daí, estive em vários abrigos e instituições para órfãos e casas de acolhimento.
Um dia, quando estava a vir da escola para casa, vinha pela rua a dar pontapés numa lata. Por acaso uma vizinha viu-me, vinha de carro e, mesmo atrás de mim tocou a buzina, e continuou a tocar durante cerca de um quarteirão. Eu continuava a dar pontapés  na  lata, ela  encostou o carro e chamou pelo meu nome, depois  correu e agarrou-me. Mais tarde falou com a minha família de acolhimento e disse-lhes que eu devia ter um problema auditivo.
Naquela época, quando se fazia um teste auditivo era num autocarro e todos os miúdos pequenos usavam auscultadores. Era suposto levantar-se a mão sempre que se ouvia o som. Ora, como sou bastante perceptiva fiquei a pensar: isto é um jogo, ver quem consegue levantar a mão mais depressa. Então aqui estou eu a levantar a mão, a brincar durante o teste. Parvoíce. Então eles pensavam que me estava a armar em parva ou que era uma miúda rebelde e, por isso, tive que fazer o teste todos os dias durante três meses.
Primeiro pensei que devia contar até dez e levantar a mão sempre que chegasse ao dez, mas isso não resultou. Depois descobri outra forma de fazer batota. A única forma que eles tinham de saber se se está a levantar a mão é olhar para nós, então concluí que era uma espécie de olhos nos olhos.
Quando a técnica olhava para mim, acenava com a cabeça, então eu sabia que quando ela mexia a cabeça, estava a girar o botão, e mesmo antes de virar a cabeça para olhar para mim, eu levantava a mão. Depois disso não tive que fazer mais nenhum teste.
Só mais tarde fui a um sítio profissional para fazer um teste auditivo. Fiquei sozinha numa divisão, e a janela era escura por isso não se consegue ver o que as pessoas estão a fazer.
Ficaram completamente chocados quando descobriram a minha surdez!
Traduzido pela Prof. Ilda Ambrósio